Perdido em páginas de livros que nunca li, deixo o meu bichinho escapar por entre os dedos sem me aperceber... e ele corre velozmente sorrindo, feliz, mas simultaneamente arrependido...
Vou-me perdendo em hábitos, vícios, mudanças, eras, caprichos, atitudes e paro!
Vejo-me diante do meu colossal espelho de cristal...
Vejo-me diferente, distinto de tudo o que sonhei, de longuíssimos cabelos de prata reluzente, ainda fortes, vistosos e elegantes que, divertindo-se com os ventos e brisas numa dança graciosa e sedutora, revelam imponente sapiência inalcançável, mas no entanto não há mais nada, nem ninguém... Com longuíssimas túnicas, de linhas orientais que fariam corar todo e qualquer 着物, todas elas brancas como a neve e de outras cores e temas alvos e brilhantes,... Miro o meu olhar de cor cega e incandescente, minhas mãos sem qualquer sombra das eras passadas sobre elas, prolongando-se em garras soberbas como finos, mas gigantes agulhões cuja beleza é simplesmente inexplicável...
Mas falta algo em mim...
Algo que não noto, mas sinto que falta...
O bichinho, o meu bichinho!
Onde pára o meu bichinho?!
Meus reluzentes cabelos que serpenteavam nos ares, moviam-se da mesma forma em terra como rios, prolongando-se até ao infinito... minhas túnicas e meu corpo começam levemente a rodopiar e a flutuar e em instantes transformo-me em furacão omnipotente e percorro todas as terras e mares, formando tornados, turbilhões, tufões, destruindo tudo o que se me atravessa e ao deitar olho, lanço minhas mãos e meu corpo como flecha liberta e vôo sobre minha presa querida...
E ela, ainda que atrozmente assustada, esboça um sorriso de alívio sobre meu peito... e assim que me abraça, tudo o que fora anteriormente destruído ressurge, renasce, reaprecia o seu lugar no mundo e nele prevalece intacto e para sempre...
E, ao retornar para meu reflexo, vejo-me resplandecente com meu bichinho na palma da mão longa... E ambos sorrimos para o mundo...
O espelho parte-se em milhões de pedaços que não chegam a cair, rolando sobre si mesmos, partindo-se mais e mais, até serem pequenas nuvens de pó de cristal e de repente, como se o céu fosse tela, as nuvens em frenesim disparavam ferozmente suas gotas formando uma tempestade de flechas cristalizadas e tudo brilha...
E nós...
Bem, nós desaparecemos...
Ihih...