De manhã…
De manhã acorda o mundo, despertam todos os seus seres, dormem os que não querem despertar e mantêm-se acordados os que não querem/podem dormir…
De manhã nasce o sol que acorda o céu e tapa as estrelas, adormece a lua brilhante com os seus seres obscuros…
A manhã…
Amanhã…
De manhã nasce um amanhã que o ontem ficou sem conhecer, tornando-se no hoje de agora e no ontem do próximo amanhã…
A manhã de amanhã será sem manha, sem ronha, sem nada conhecido ou reconhecido, porque a manhã do amanhã será um novo dia nascido, talvez seja apenas o hoje continuado ou renascido… nada se sabe, nada se conhece, tudo se planeia, tudo se prevê, mas nem tudo acontece…
A manhã…
Um começo com princípio e sem fim, o nascer do dia… e ele nasce, cresce e em vez de morrer, adormece e amanhã de manhã nascerá outro dia e o outro que nasceu fica preso no passado e nunca morre… quanto muito será esquecido ou lembrado no futuro, mas sempre sem futuro…
A manhã…
O começo de tudo…
E o dia nasce, cresce…
E a vida é criada e desenvolvida…
Tornando-se tudo no ontem do amanhã…
O amanhã…
Melhor esperar…
Melhor dormir…
E esperar que venha a manhã,…
para tudo acordar,
despertar,…
iniciar o começo da dor…
a dor…
A dor, sensação criada e sentida como um tremor, ardor ou amor…
A dor de amor…
A dor da paixão…
A dor do ódio é inexistente, pois o ódio é dor por si só, é dor de não sentir amor, mas sim o sentir do ardor da raiva sentida e não vivida…
A dor não deixa viver, só morrer, ou esperar pelo manto negro da noite para apagar a dor e depois…
depois vem a manhã…
e a dor volta…
A dor sentida, a dor vivida, a dor sofrida por quem sente e só a sente verdadeiramente quem a merece… ou não…
pois não?
A dor é um bicho esquisito, um fruto mau da boa e bela árvore, o início, meio ou fim de algo, uma reacção, boa ou má, a algo que só quem a entende e compreende e a aceita como sua é que a sente verdadeiramente e dela se livra ou a defende…
A dor de prazer que faz do viver o centro de lazer do dia-a-dia de quem a vive intensamente…
Corações a pular, sangue a ferver de tanta dor de prazer… e ter dor de prazer querida é querer ter o prazer da dor na sua vida… e na dos outros…
Sente-se a dor, sente-se o prazer, ou o ardor da dor não querida… e no fim o sossego, o alívio, a recuperação do estar ou bem-estar, a satisfação do prazer ou do alívio da dor…
Mas como é não ter dor?
Como é a vida sem se sofrer?
Já Siddhartha se questionou porque nascemos se desde essa altura até à hora da morte, nós sofremos… E ao consciencializarmos isto sentimos dor, a dor de nascer, a dor de viver e a dor do saber…
Saber que não ocupa lugar, nem a dor…
O saber…
O saber que nos move, comove, sem que estorve o mundo…
O saber ver…
O saber interpretar…
O saber ouvir…
O saber escutar…
O saber do ser é indiscutível e inacessível no seu todo, pois nada, nem ninguém tem o perfeito saber durante o seu viver, mas sim a capacidade de ter, obter e manter ou guardar parte do saber de todo o ser e do mundo…
O saber…
O não-saber é o não compreender e viver sem conhecer, conhecendo apenas o saber essencial para viver…
E vive-se…
Uns sem saber o que é viver e outros vivendo à procura do saber…
Eu esqueço o que sei e não sei e lembro-me de tudo…
No fundo não me lembro de nada, mas retenho o que quero, preciso e sei… retenho o saber, o saber viver, o saber de não saber como saber… retenho a vida que vivo, não porque me basta, mas porque é assim que tenho de saber como saber viver…
Sabendo se saber que o saber só se conhece sabendo como entendê-lo de forma a conhecer e entender e manter ou guardar o saber…
E depois vem a manhã…
E tudo começa…
de novo… ou não…
Logo de manhã…
Didacus, ?? de Novembro/Dezembro(?) 2006
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