Sunday, April 8, 2007

A era humana/A era das cinzas

Bailando pelo céu vão o vento e as nuvens…
As estrelas, a lua, o sol…
Até seres divinos que nunca vimos
e talvez nunca veremos…
Fico a pensar, será a solidão um mal adquirido?
ou algo inato? Será mesmo um mal?
É como esperar por tudo sem nunca encontrar nada,
Ânsia pelo bom e receio pelo mau
sem nunca encarar nenhum,
uma agonia soberba que torna o tempo num carrasco…

Por mais facadas e trespasses de espadas,
Por mais dores extraordinariamente insuportáveis,
tudo e mais que possamos sentir
no confronto inevitável com a realidade da vida…
Nada! Mesmo nada é mais doloroso e angustiante que a solidão…
E por fim sentimos algo cair por trás
num tom seco, pesado e pavoroso…
…como se fosse uma lápide…
Olhamos…
E deparamo-nos com uma cena divina, macabra, mas divina…
Um anjo ensanguentado,
de túnicas largas, brancas e algumas faixas negras e cinzas meio rasgadas…
de asas magnas e gigantes, com penas de um dégradée brilhante entre o branco e o negro…
de cabelos longos e soltos pelo vento…
de olhos estranhos e fatais de um frio réptil demoníaco…
de unhas longas e afiadas, garras de mentira, ilusão e frustração…
de feridas descaradamente abertas, mostrando um coração transfigurado…
tudo isto ensanguentado…
E reflectimos…
E vemos que o que caiu…
O anjo de cinzas e sangue…
somos nós mesmos…
Perdurando para sempre em cinzas abandonadas
cobertas por uma vida vermelha desperdiçada em pensamentos, emoções e acções em vão,
que talvez delas nunca mais se recordarão,
pois o carrasco tratará de as apagar para sempre
deixando as cinzas para trás
para que delas nasça uma nova vida
criando mais cinzas…

Didacus, 17 de Março 2007

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